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Muito se falou durante a semana sobre Luis Suárez – se voltaria a campo pelo Uruguai, menos de um mês depois de ter operado o joelho,  para enfrentar a Inglaterra. Justamente o English Team, com diversos de seus companheiros de Liverpool e com os quais havia acabado de encerrar uma belíssima temporada, sendo artilheiro da Premier League.  Como ele voltaria? A 50%? Ou 100%? Elementos não faltavam, então, para dominar a pauta, não?
Depois do que o atacante fez nesta quinta-feira na Arena de São Paulo, porém, não há como não estender o assunto. Suárez, vocês sabem, marcou os dois gols na vitória por 2 a 1, pelo Grupo D da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.  Então o FIFA.com decidiu ir atrás de seus companheiros de equipe para que eles continuassem a conversa. “A gente gostaria de ter uns dez jogadores desse nível”, afirma o capitão Diego Lugano. “Mas temos alguns que fazem a diferença, como ele, que é um craque, e o resto somos todos trabalhadores.”
Não é novidade a habilidade do uruguaio. Muito menos seu faro de gol e o modo especial como, para o bem e para o mal, consegue mexer com todos aqueles que estão reunidos num estádio de futebol. Pegue o jogo desta quinta, em São Paulo. Na primeira vez em que se apresentou para bater um de seus venenosos escanteios pela esquerda, foi recebido por uma sonora vaia dos ingleses que ocupavam uma boa faixa de arquibancadas justamente naquele canto. No segundo tempo, do outro lado, foi novamente para uma cobrança decorner e, dessa vez, foi aplaudido pelos brasileiros que ali estavam. De pé. E antes mesmo de ter feito o segundo gol.
Os uruguaios, então? Bem, aí nem é preciso falar. Pouco antes de sair do gramado, Suárez passou diante deles, maravilhado, acenando e batendo palmas, como se não fosse ele o personagem a ser reverenciado. Da mesma forma que foi por seus companheiros. Lugano  – aquele que estava fora de combate dessa vez – o ergueu bem alto no centro do gramado
“Isso é o que vemos há tempos, não?”, afirma o zagueiro. Mas esse costume da parte Celeste não quer dizer que os jogadores não se impressionem com o que ele é capaz de fazer. “É um fenômeno”, diz o volante Egidio Arévalo.  “A verdade é que tínhamos de esperá-lo. Sabíamos que daria tempo de ele se recuperar para esta partida, mas não sabíamos exatamente como estaria, e foi surpreendente o que fez em campo.”
Uma vez em campo, o artilheiro muda a cara dos atuais campeões sul-americanos.  “Nosso time joga muito em torno dele”, admite Lugano, antes de citar como a mera presença de Suárez é o suficiente para influenciar também o rendimento até mesmo de Edinson Cavani, que fica mais solto para correr todo o campo.
E o que teria a dizer seu parceiro de ataque? Simples: "Ele fez o que tinha de fazer”. Na visão de um atacante, as coisas parecem bem diretas: seu ofício é marcar gols. Suárez fez dois – muito bem. Mas Cavani também não ingora o fato de que era uma situação especial. “Sabemos que não é fácil voltar de uma lesão, ainda mais com toda a pressão de um Mundial e um montão de coisas que se possa dizer ou supor a respeito.”
Que coisas são essas? Alguns jogadores uruguaios não poderiam acreditar que a recuperação e a dedicação se seu célebre parceiro pudessem ter sido questionadas.  “Muitos o estavam criticando, dizendo que teríamos um jogador somente a 50%”, diz o goleiro Fernando Muslera, para quem as contas, na verdade, são bem mais simples: “Ouvia isso e pensava: eu topo ter um desses no meu time de qualquer jeito. Até a 3% ele pode resolver uma partida.” Quanto era a porcentagem exata desta quinta-feira, ainda não se sabe. E nem interessa. De certas, mesmo, só duas coisas: que Suárez resolveu mesmo e que, de novo, eis que estamos aqui, falando dele.