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Dubai também tem sua 25 de março

As ruas do centro velho de Dubai concentram lojas populares e atraem turistas com produtos falsificados. Esse é o lado obscuro do paraíso que você pode aproveitar bastante, se gostar de coisas falsas. Longe dos empreendimentos bilionários também existe muita dificuldade. O Qsacada faz um apanhado para tentar "desglamourizar" esse que é considerado o paraíso do Oriente Médio e que vem despertando tanto interesse no Brasil.

Al Ras é um bairro escuro e apertado, cheio de becos, incrustado na região do Deira, a cerca de 20 quilômetros do polo financeiro de Dubai, o mais populoso e um dos mais ricos principados que fazem parte Emirados Árabes Unidos. É nesse miolo de Al Ras que se concentram as “souks” (mercados livres) e que pulsa um lado menos glamourosa de Dubai, mas nem por isso desinteressante.

A economia informal domina essa região sustentada por vendas de versões “genéricas” de roupas e bolsas de marcas de luxo - como Louis Vuitton, Gucci e Chanel -, bijuterias e joias de ouro a preços convidativos. Entre os clientes, os turistas se misturam ao público local, que são imigrantes em sua maioria. O bairro de Al Ras é uma versão árabe da popular rua 25 de Março, no centro de São Paulo, considerada a meca paulistana dos consumidores em busca de boas pechinchas.

Os produtos falsificados são vendidos em microlojas dentro de galerias e até mesmo em porta-malas de carros. Andar pela região do Deira é uma aventura à parte. Uma realidade bem diferente da mesma Dubai que concentra investidores bilionários, formados em sua maioria por europeus e asiáticos, que buscam oportunidades de negócios, sobretudo na construção civil.

O emirado de Dubai atrai dinheiro por ser um paraíso fiscal e também por ser um grande parque de diversões do Oriente Médio, que se orgulha de seus maiores arranha-céus e do maior shopping center o mundo. É comandado pelo sheik Mohammed bin Rashid Al Maktoum, da dinastia Al Maktoum que está no poder desde 1833. Dubai conta tem hoje 2,2 milhões de habitantes, sendo cerca de 90% estrangeiros. Os locais não são necessariamente de Dubai - migram de outros principados dos Emirados Árabes Unidos (são sete, ao todo) e de outros países do Oriente Médio.

Além do petróleo

Para fazer a economia girar e reduzir sua dependência do petróleo, Dubai começou, desde o início dos anos 2000, a atrair investidores de todo o mundo. Somente em 2015, a carteira de investimentos em construção, um dos maiores setores geradores de emprego do principado, atingiu US$ 194 bilhões, de acordo com dados levantados pela DMG Events, que organiza a maior feira de construção civil do Oriente Médio, a Big 5, que reúne empresas de diversos países interessados em investir na rica região. Comércio e turismo também contribuem para a economia local.

Nesses últimos anos, Dubai recebeu bilionários aportes em infraestrutura para a construção de estradas, de sua suntuosa linha de metrô (que corta a cidade em quase 50 quilômetros de extensão), de edifícios comerciais e de condomínios de luxo para acomodar executivos globais. O emirado, que viveu seu grande boom imobiliário no início dos anos 2000, foi abatido pela crise financeira de 2008, mas voltou a anunciar projetos ambiciosos - que incluem resorts, campos de golfe e torres comerciais - tudo em estilo opulento. Dubai é considerada uma das cidades mais abertas ao investimento estrangeiro do Oriente Médio.

Suas avenidas são largas - algumas com seis pistas de cada lado - e há muito trânsito na hora do rush, mas nada que possa ser comparado aos engarrafamentos de São Paulo. Andar a pé também é praticamente impossível. Tudo é muito distante.

Imigrantes

Não é preciso ir muito longe do polo financeiro e rico de Dubai para o cenário mudar completamente. As ruas ficam estreitas, os prédios são baixos e as lojas, coladas umas nas outras. Essa região, conhecida como Deira, é a chamada cidade velha de Dubai, parte mais popular e que deu origem ao local.

É nessa região que se concentram os imigrantes responsáveis por erguer o grande paraíso artificial, como é conhecido o principado. Uma cidade com grandes construções, que mais parecem uma miragem. Boa parte desse contingente de imigrantes trabalha em megaprojetos de construção civil para empresas como Emaar, Meera e Damac, que tem uma parceria com a Organização Trump, que pertence ao atual pré-candidato republicano dos Estados Unidos, Donald Trump. O empresário que tem apregoado, em sua campanha eleitoral, banir os muçulmanos dos EUA é o mesmo que está à frente de importantes projetos resorts com campos de golfe em Dubai.

Quem não trabalha na construção civil tenta a vida como ambulante ou dono de lojas nas proximidades do mercado livre de Deira, que vendem desde especiarias e chás, concentrados no “spice souk” (mercado de temperos) até pashiminas (echarpes), burcas e chinelos Havaianas falsificados.

Luta.

O indiano Abdul Rahman, 27 anos, por exemplo, desde que chegou a Dubai, há cinco anos, ele diz ter feito de tudo para ganhar dinheiro. “Aqui é melhor que a Índia, mas a vida não é fácil. Vida boa em Dubai só para os mais ricos. O custo de vida é muito alto e boa parte do que eu ganho mando para minha família na Índia”, diz Rahman, que mora com os primos bem longe do centro financeiro de Dubai. Rahman diz que ganha por mês cerca de 1.500 dirhams (ou cerca de R$ 1,5 mil), quase o dobro da metade do salário mínimo no Brasil, que atualmente é de R$ 788.

Até para ser ambulante não existe muito autonomia. Rahman se reporta a Ali Mamuti, de 45 anos. Mamuti fica sentado num banco entre as minilojas, controlando os vendedores mais jovens. Indiano da região de Kerala, Mamuti mora há 32 anos em Dubai e não tem família. Ele passa o dia sentado em um banco monitorando a “equipe” que caça compradores. De seu “escritório da praça”, dá ordens e orienta seus vendedores. Ele não reclama de Dubai, cidade que o acolheu ainda jovem, mas também não vê muitos motivos para rasgar elogios: “Tudo aqui gira em torno do dinheiro.”

Fonte Estadão




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