A lenda das orquídeas
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A lenda das orquídeas


Em uma cidade chinesa, existia uma jovem famosa chamada Hoan Lan, que divertia-se, em fazer penar suas paixões aos seus numerosos adoradores.

Por um sorriso, o jovem Kien Fu, tinha cinzelado o ouro mais fino e trabalhado com infinita paciência as mais lindas peças de jade.

A ingrata, após se adornar com todos os presentes do nobre apaixonado, riu-se dele e o desprezou. Kien Fu, desesperado, acabou com a própria vida atirando-se ao Rio Vermelho.

O pintor Nguyen Ba conseguiu obter cores desconhecidas para pintar o retrato de sua amada. Esta, porém, depois de ter exibido para satisfação de sua vaidade a magnífica pintura, desprezou o artista que desapareceu para sempre no mistério das selvas...

Mai Da, apaixonado também, quis patentear seu amor à jovem volúvel, inventando um perfume delicioso somente digno dos anjos. A ingrata perfumou-se e mandou pôr na rua o seu adorador que, nada mais aspirando na vida, se envenenou...

Cung Le levou sua perseverança a incrustar nácar numa pulseira de ébano, que foi recebida pela ingrata. O pobre endoideceu...

Mas, o poderoso Deus das cinco flechas, Deus que a tudo via e tudo ordenava, julgou que era o momento de castigar tanta maldade, fazendo a jovem volúvel apaixonar-se pelo formoso Mun Cay.

Desde então, Hoan Lan sonhava no seu leito de nácar e sedas bordadas, com seu adorado, cujo nome, esvoaçava sobre seus lábios de carmim, como uma borboleta sobre a rosa.

Ao despertar, descia à piscina, banhava-se e adornava-se com suas jóias mais preciosas, para ver passar seu querido Mun Cay, que apenas se dignava a levantar os olhos para ela.

Nunca tinha considerado a formosa jovem, nem se interessado pela fama de beleza que tinha ardido à sua volta.

Os dias iam passando e Mun Cay não saía de sua indiferença cruel...

Um dia, Hoan Lan decidiu sair-lhe ao encontro e declarar-lhe paixão...

"Não me interessas rapariga!" - disse ele. "És como todas as outras. Para mim não vales nada! Se fosses como aquela que eu amo... Esta sim, é uma deusa! Tu, mísera Hoan Lan, com toda tua vaidade, não serves nem para atar-lhe as fitas das sandálias!". E, com um sorriso desdenhoso, afastou-se...

Em meio de seu desespero, Hoan Lan lembrou-se do deus todo poderoso que vivia na montanha de Tan Vien. Talvez ele pudesse lhe valer...

Apesar da noite escura e chuvosa, a jovem dirigiu-se ao monte sagrado, onde residia sua última esperança.

A entrada do templo subterrâneo, era guardada por um terrível dragão.

Suplicou-lhe a concessão de entrada e ao cabo de muitos pedidos conseguiu penetrar num extenso corredor, por entre serpentes horríveis que lhe babujavam os pés nus.

Quando chegou junto ao trono de ônix do poderoso gênio, prostrou-se e implorou:

"Cura-me, que sofro horrivelmente! Amo Mun Cay que me despreza!"

"É justo o castigo" - respondeu o deus - "pelo que tens feito aos teus apaixonados".

"Oh! Todo poderoso! Tem dó de mim! Concede o amor de meu querido Mun Cay! Sabes bem que não posso viver sem ele!"

"Vai-te daqui!" - rugiu o gênio - nada conseguirás! O castigo que pesa sobre ti, foi imposto pelo Kama que tudo sabe! É justo que sofras! Saia de meu templo!"

À saída, Hoan Lan encontrou-se com uma bruxa de pés de cabra!

"Formosa jovem" - disse-lhe a bruxa - "sei que és muito desgraçada. Queres vingar-se de Mun Cay? Vende-me a tua alma e juro-te que, embora Mun Cay não te ame, não amará à outra mulher!"

Hoan Lan voltou à sua casa que lhe parecia um cárcere.

Saía pelos bosques para distrair sua pena, mas sempre em vão. . .

Um dia, vendo ao longe seu adorado Mun Cay, correu para ele e quando se preparava para abraçá-lo, o jovem foi transformado numa árvore de ébano!

Neste momento apareceu a bruxa que, soltando uma gargalhada, lhe disse:

"Desta maneira, o teu amado não pode ser nunca de outra mulher!"

"Bruxa infame!" - exclamou chorando, a pobre Hoan Lan - "o que fizeste a meu adorado? Devolva-me ou mata-me!"

"Contratos são contratos!" - replicou a bruxa, rindo satanicamente.

"Cumpri o que prometi! Mun Cay, embora nunca te ame, não amará a outra mulher! Prometi e cumpri! A tua alma me pertence!"

Hoan Lan, abraçada ao pé da árvore, clamava desesperadamente a seu tronco imóvel...

"Perdoa-me Mun Cay! Tem para mim, uma só palavra de amor, de indulgência e compaixão! Não vês como me arrasto aos seus pés? Como te abraço? Como sofro?"

Mas a árvore nada respondia. . .

A jovem ali ficou por muito tempo. . .

Uma manhã, passou por ali um gênio, que se compadeceu de sua dor. Acercando-se dela, pôs-lhe um dedo na testa e disse:

"Mulher, procedeste muito mal! Foste volúvel até a crueldade e ingrata até a malvadez! Procedeste muito mal! Mas a tua dor purificou a tua alma!

Estás perdoada e vais deixar de sofrer. Antes que a bruxa venha buscar a tua alma, vou transformar-te numa flor. Ficarás sendo, no entanto, uma flor esquisita e requintada, que de a impressão do que foi a tua vida maldosa!

Quem vir as tuas pétalas, facilmente adivinhará o que foi o teu espírito, caprichoso, volúvel, cruel e a tua preocupação constante pela elegância...

Concedo-te um bem: não te separarás do bem que adoras e viverás da sua seiva, parasita do teu amado!"

Assim falou o poderoso gênio e enquanto falava, a túnica rósea de Hoan Lan ia empalidecendo e tornando-se de uma delicada cor lilás...

Os olhos da jovem brilharam como pontos de ouro e as suas carnes tomaram a tonalidade do nácar.

Os seus formosos braços enrolaram-se na árvore na derradeira súplica.

"E assim, apareceu a primeira orquídea no mundo..."


Desconheço o autor
ilustração: Orquidário Santa Bárbara




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