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Lothar Matthäus foi o capitão da Alemanha na Copa do Mundo da FIFA Itália 1990 e teve a honra de levantar o troféu na ocasião. Desde então, nenhum outro capitão alemão conseguiu repetir o gesto, embora a seleção alemã tenha chegado perto do título algumas vezes. Na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, o selecionado germânico chegou pela quarta vez consecutiva às semifinais do Mundial — e quer finalmente conquistar o seu quarto título.
O jogador, que é recordista em número de partidas na Copa do Mundo, está acompanhando o torneio no Brasil atentamente e tem a sensação de que desta vez o seu país conseguirá finalmente voltar a levantar a taça. Antes das semifinais, ele concedeu uma entrevista à FIFA para falar sobre as primeiras partidas da seleção alemã, o próximo jogo contra o anfitrião e os motivos da sua confiança.
FIFA: Como você avalia o desempenho da Alemanha até o momento no Mundial?
Lothar Matthäus: Não é o mesmo futebol bonito que a Alemanha mostrou nos dois últimos Mundiais, mas Joachim Löw também aprendeu algo com isso: não se ganha título jogando bonito. E o objetivo da seleção alemã é vencer a Copa do Mundo no Brasil. Por isso, estamos vendo um jogo um pouco mais conservador. Estamos pensando apenas na linha de quatro defensores e em Philipp Lahm como primeiro volante. A Alemanha teve alguns problemas na preparação. Jogadores importantes ficaram lesionados por longo tempo — como Bastian Schweinsteiger, Sami Khedira e também Miroslav Klose. E provavelmente por isso Löw teve de testar algo diferente, e até o momento isso funcionou muito bem do ponto de vista dos resultados.
Na Alemanha, houve até agora muitas críticas a respeito do estilo de jogo da equipe, principalmente depois da partida contra a Argélia. A que se deve isso, já que os resultados estão acontecendo?
Os torcedores estão um pouco mal acostumados, já que a equipe mostrou um futebol muito bom nos últimos anos e conta com uma grande qualidade. Até agora, quase todos os jogos foram muito disputados e é óbvio que os jogadores se perguntam: 'Queremos jogar bonito e voltar para casa mais cedo ou queremos estar com a taça nas mãos depois de sete jogos?' A resposta é clara: tragam o título para casa. E por isso não joguem apenas bonito, mas acima de tudo pratiquem um futebol vitorioso.
O que você achou de, antes da partida contra a França, Löw ter recuado Lahm para a lateral, alterando com isso a sua mentalidade e a sua tática?Löw é inteligente. É claro que isso também depende da situação. Ele percebeu que Schweinsteiger e Khedira estão de volta à sua melhor forma e aos poucos vêm ganhando ritmo. Ele precisava estar convencido disso para recuar Lahm novamente.
O que a Alemanha precisa mudar para chegar à final?
Os jogadores precisam apenas vencer o Brasil, não importa como. Alguns atletas não estão jogando na posição a que estão acostumados nos seus clubes. Isso ocorre principalmente pela esquerda. Fica perceptível no caso de Mesut Özil. Na realidade, a sua posição é no centro e agora ele está jogando pela esquerda. Pela sua linguagem corporal, fica claro que ele não tem a mesma alegria e diversão de jogar como antes. Mas Özil precisa jogar nesse setor se quiser ao menos estar em campo e ele está fazendo o seu melhor por lá. Benedikt Höwedes também não é lateral esquerdo, e sim zagueiro central. Observo que a Alemanha está com problemas nesta posição. Mas, tirando isso, a equipe está funcionando como uma unidade compacta, está em boas condições físicas e consegue jogar no mais alto ritmo durante os 90 minutos. E isso pode ser decisivo para triunfar no Mundial.
Agora, a Alemanha enfrentará o anfitrião Brasil nas semifinais. Nos jogos anteriores da Seleção, os torcedores criaram uma atmosfera grandiosa. Será que isso pode intimidar os alemães?
Os jogadores estão acostumados a grandes atmosferas. Eles jogam quase todas as semanas em estádios lotados na Bundesliga, que são quase tão grandes quanto os do Brasil. Principalmente os jogadores do Bayern. Em toda partida fora de casa, eles sentem a pressão e todo o estádio fica contra eles. Agora, a mesma coisa vai acontecer. Mas isso também pode se tornar uma pressão para os anfitriões e pode ser bom para a Alemanha. Observamos que os brasileiros estão muito sensíveis, eles choraram muito durante a Copa do Mundo. Não apenas por tristeza, mas também por alegria. Eles estão colocando as suas emoções para fora. E assim vemos que existe muita sensibilidade na equipe. Precisamos observar como vão lidar com essa pressão. O Brasil tem a vantagem de jogar em casa, mas a Alemanha tem a vantagem de ter uma equipe forte.
Em que sentido é vantajoso que Löw disponha de jogadores que já estão disputando a sua segunda, terceira ou, no caso de Klose, até mesmo a sua quarta semifinal de um Mundial?
A grande vantagem contra a França foi, sem dúvida, a experiência. Os franceses têm uma equipe jovem, mas pouca experiência em torneios, enquanto há muitos jogadores da Alemanha que já disputaram 80, 90, 100 ou até mais jogos pela seleção e vários torneios. Isso só pode ser uma vantagem. A experiência de ter disputado o torneio no passado é com certeza uma vantagem da Alemanha em relação ao Brasil.
Você também participou de várias Copas do Mundo. Como os jogadores se preparam para uma semifinal como esta?
Não podemos generalizar isso. O importante é que os jogadores também façam outras coisas e não pensem apenas no jogo. Mas claro que isso fica na cabeça, talvez até mais, por exemplo, do que contra a França porque agora sabemos que vamos jogar contra equipe que é supostamente a maior favorita, o anfitrião do torneio. Os jogadores também são mais confrontados externamente com isso. E eles precisam se libertar disso.
Como será a partida contra o Brasil?
Sou um patriota e acredito que não há nada de errado nisso. Sabemos que será um jogo difícil e com certeza não somos os favoritos. Mas vamos vencer por 2 a 1 — e quando digo 'nós' é claro que me refiro à Alemanha.
O que o deixa confiante de que a Alemanha será campeã?
Acredito que precisamos diferenciar as coisas. Não temos a obrigação de ser campeões mundiais, mas queremos e podemos fazer isso. A equipe já chegou muito longe. Ela está entre os quatro melhores e agora tudo depende de nuances. A seleção alemã deixou em mim uma impressão de firmeza e estabilidade. Ela está autoconfiante. A linguagem corporal dos jogadores mostra o que eles pensam: 'É preciso que apareça uma equipe melhor do que a nossa para nos vencer.' Eles estão esbanjando autoconfiança. No setor ofensivo, com certeza há uma coisa ou outra a ser melhorada, mas eles querem apenas uma coisa: o