DO TERRA NOTICIAS
Levantamento divulgado nesta sexta-feira pela ONG Contas Abertas revela que a construtora Cowan, responsável pelo viaduto em Belo Horizonte que desabou nessa quinta matando duas pessoas, doou 2,8 milhões para campanhas eleitorais em 2012. O número ilumina o que seria uma íntima relação de trabalho e contratos entre a empresa e o governo, em cujo histórico somam-se casos de denúncias e irregularidades.
De acordo com a Contas Abertas, que investiga o fluxo de capital do processo eleitoral brasileiro, a Cowan auxiliou três partidos nas eleições passadas: foram R$ 1,8 milhões para o diretório nacional do PMDB; R$ 500 mil para diretório nacional do PCdoB e R$ 500 mil para o diretório nacional do PSDB.
Apesar do volume, a Cowan é um nome relativamente pequeno entre suas irmãs maiores da construção civil. Esses R$ 2,8 milhões a colocaram, segundo a ONG, na posição 73 no ranking das empresas que mais doaram nas eleições de 2012. A lista de doações é liderada pela Andrade Gutierrez (R$ 81,2 milhões doados), Queiroz Galvão (R$ 52,1 milhões) e OAS S.A. (R$ 44,1 milhões).
Atrasos
O viaduto Guararapes, que estava sendo construído sobre a avenida Dom Pedro I, em Belo Horizonte, era parte da implantação do BRT Antônio Carlos/Pedro I. De acordo com levantamento da Contas Abertas, toda a obra, que entra no pacote das obras da Copa do Mundo, foi orçada em R$ 713,5 milhões.
Deste montante, R$ 554,8 milhões já foram contratados e R$ 214,7 milhões foram pagos. A obra, no entanto, não ficou pronta no prazo definido (antes da Copa). No sistema da prefeitura de Belo Horizonte, que é responsável pela execução do empreendimento, o status da obra em 30 de abril de 2014 era "em operação"
Mais que atraso, a obra já havia apresentado problemas em fevereiro deste ano. No episódio, o viaduto Montese - que compõe a obra do qual Guararapes fazia parte - havia apresentado deslocamento anormal de 27 centímetros, o que causou interdição da obra por quatro dias.
Denúncias
Mas as irregularidades das obras da Cowan vão além de falhas de construção. Em 2012, a prefeitura de Belo Horizonte assinou contrato para a obra em questão antes da formação do consórcio das empresas Delta e Cowan. Em fevereiro do mesmo ano - dois dias após a Polícia Federal prender o bicheiro Carlinhos Cachoeira - a prefeitura emitiu nota de empenho para pagar a Delta separadamente de sua parceira nas obras do BRT/Move na avenida Pedro I.
Segundo o Jornal do Brasil, a Delta - investigada pela CPI do Cachoeira - deixou oficialmente o consórcio em julho de 2012. A partir de então, a obra ficou inteiramente a cargo da Cowan. Na época foi descoberto, por meio de um relatório elaborado pelo Tribunal de Contas do Estado, que havia sobrepreço de até 350% em alguns produtos ligados à obra.
A Cowan é conhecida por ter mais de 80% de seus negócios fechados com governos. Além da obra do BRT, a empreiteira executa atualmente as obras do Metrô do Rio de Janeiro e de ampliação das pistas de pouso e decolagem do Aeroporto de Confins.
Cobranças
Nesta sexta, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, cobrou apuração do acidente e reafirmou que a responsabilidade pelo andamento da obra recaía sobre a prefeitura de Belo Horizonte.
“A responsabilidade do governo federal é garantir os recursos para que as obras de mobilidade urbana possam sair", explicou a ministra. "Cabe aos governos locais, a prefeitura de Belo Horizonte no caso, a responsabilidade de fazer o projeto, contratar as obras e fiscalizá-las com rigor”, disse. Segundo Miriam Belchior, a segunda fase do BRT em Belo Horizonte está com 85% das obras concluídas.
Desde o colapso do viaduto, a Cowan divulgou três notas oficiais. A empresa informou que a perícia do acidente deve ser divulgada em até 30 dias e negou qualquer relação entre interdição do viaduto Montese em janeiro com a queda de Guararapes. O viaduto que desabou será demolido.
A reportagem tentou entrar em contato com a construtora, mas não foi atendida até o momento da publicação desta reportagem .
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