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Copa aquece mercado do sexo em Cuiabá e a pratica é com menores de 14 anos
Além de turistas estrangeiros e nacionais, Mato Grosso também está recebendo garotas de programa de outros estados que pretendem “recepcionar” os visitantes. Com cachês que podem chegar a R$ 1,5 mil por programa, jovens de Goiás e Rondônia vem para o Estado com altas expectativas de lucros.
De acordo com algumas profissionais do sexo, em apenas um mês é possível ganhar mais de R$ 15 mil depois de pagar as despesas com hospedagem e alimentação. Na Capital já existem sites de apresentação de garotas de programa com traduções para inglês e espanhol, para atender aos clientes estrangeiros.
Em diversos sites é possível encontrar telefones e fotos de jovens, que em alguns casos até falam inglês e espanhol. Segundo as profissionais, em alguns locais a demanda já aumentou desde o começo do mês, com a chegada dos turistas estrangeiros.
Bruna* chegou a pouco mais de uma semana em Cuiabá incentivada pelas amigas que já estão em Mato Grosso na mesma profissão. Vinda de Goiás, ela afirma que as expectativas são grandes de que com o início dos jogos a demanda aumente ainda mais.
“Cheguei há pouco tempo, mas vejo as meninas falando que os hotéis e as boates estão mais lotadas. O mercado aqui é melhor que em Goiânia, já tenho colegas que receberam em euro. Mas existe esse mito de que os ‘gringos’ gastam muito, mas quem gasta mais são os brasileiros”.
Apesar de ter uma profissão formal e trabalhar com carteira assinada, Cínthya*, 25, veio há 2 meses de Rondônia para Mato Grosso porque “o mercado é muito bom aqui”. Ela conta que investiu cerca de R$ 4 mil entre hospedagem e alimentação para vir ao Estado para ganhar mais de R$ 15 mil durante sua estadia.
“Gostam mais quando as meninas são de outros estados, porque quem vem de fora ganha mais. Já atendi chilenos e a expectativa é que os atendimentos aumentem depois do primeiro jogo em Cuiabá. Muitas meninas viajam e ficam um tempo no estado e depois vão para outro lugar. Essas são as mais valorizadas. Quem viaja não é qualquer garota de programa. São meninas aparentemente normais, que dormem em bons hotéis e que até falam inglês e espanhol para atender os ‘gringos’”, explica Cínthya.
Além dos programas através de um site de acompanhantes, ela também realiza shows em casas noturnas, onde garante ganhar mais de R$1 mil por noite apenas com apresentações eróticas. “Mato Grosso é um estado bom para ganhar dinheiro com programa. Aqui o movimento sempre é bom, porque é um estado onde existe dinheiro, mas espero que depois do início dos jogos em Cuiabá as coisas melhorem ainda mais. Nesse mercado de prostitutas de luxo, somos muito procuradas e os estrangeiros veem a mulher brasileira como símbolo sexual, o que é bom para os negócios”.
Mesmo com altos ganhos, há garotas que procuram sair da profissão e ingressar em uma carreira formal para mudar de vida. De poucas palavras, a goiana Thainá* chegou há poucos dias e com os ganhos iniciais se matriculou em uma faculdade de medicina da Capital, que irá pagar com o atual trabalho. “Com a Copa ainda não vi tanta diferença, achamos que iria aumentar muito, mas nos primeiros dias da Copa não vi diferença. Estamos esperando os turistas e vim com a expectativa de ganhar pelo menos R$ 1 mil por dia. No meu caso decidi ficar em Cuiabá e fazer faculdade de medicina para ter uma profissão”.
Para a assistente social e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Madalena Rodrigues, os altos ganhos são um atrativo que iludem muitas mulheres e até meninas a entrarem para a prostituição. Além dos problemas físicos, a professora afirma que a mulher sofre muitas consequências negativas quando exerce esse tipo de atividade.
“Essas meninas podem pegar uma doença sexualmente transmissível ou engravidar sem planejamento. Mas esse problema é mais complexo do que parece. A prostituição traz consequências sociais, culturais, econômicas e psicológicas. É uma questão mais ampla. O tempo da relação sexual é pouco, mas as consequências são grandes e duram muito tempo”, explica Rodrigues.
A professora avalia que o impulso para a entrada no mundo da prostituição muitas vezes acontece dentro de casa, onde não é raro os próprios pais ou responsáveis “agenciarem” as meninas, mesmo antes dos 18 anos.
“O mito de que se ganha muito, somado ao fato que a mulher se sente bonita ao ser admirada por um ‘cliente’ são fatores que contribuem para que mais meninas entrem nessa vida. Mas essa situação só mudará quando desde a infância a menina for educada de uma forma a valorizar o seu corpo e se perceber como cidadã. Elas entram pelo dinheiro fácil, mas as situações que enfrentam são o oposto do que imaginaram. É uma vida difícil e que continua porque é vantajoso para quem utiliza esse comércio”.
MENORES - No Brasil a prostituição não é crime, porém quando o garoto(a) de programa é menor de idade, quem se utiliza desse “comércio” comete um crime e é preso. Também é crime o aliciamento tanto de menores como de maiores. Caso algum dos envolvidos seja menor de 14 anos, mesmo que não haja pagamento e o menor afirme que o sexo foi consensual, por lei o maior de idade é indiciado por estupro de vulnerável. Para combater essas situações, a Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Dedica) recebeu reforço de 12 investigadores e uma escrivã para atender anônimas ou feitas pelas conselhos tutelares.
Delegado da Dedica, Eduardo Botelho explica que as ações da delegacia não têm um foco em determinados lugares, pois a exploração sexual de menores na Capital não acontece apenas nas periferias, mas também em bairros nobres. “Na última semana prendemos 3 pessoas que praticaram sexo com menores de 14 anos.
Temos recebido denúncias desse tipo de crime em bairros nobres. Por isso não podemos restringir nossa ação e sim ampliar, para detectar o maior número de casos. Com o aumento da equipe, agora podemos atender as denúncias logo que as recebemos”.
*Nomes fictícios para preservar a identidade das entrevistas.
MT Agora - Gazeta Digital
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