Alessandra Corrêa
Na reta final para as eleições legislativas de 4 de novembro nos Estados Unidos, uma nova arma tem sido usada tanto por democratas quanto por republicanos na disputa por votos: a chegada do ebola ao país e a maneira como o governo vem lidando com a crise.
De um lado, a oposição republicana aproveita a histeria que se instalou desde o diagnóstico do primeiro caso em solo americano, no fim de setembro, para acusar o presidente Barack Obama de lentidão e falta de liderança e para afirmar que a crise comprova que os democratas não sabem governar.
De outro lado, os democratas dizem que as críticas são sinal de hipocrisia e afirmam que os republicanos tiveram papel no surgimento do problema, ao cortar financiamento para agências de saúde ligadas ao governo federal.
Diante de pesquisas segundo as quais 49% dos americanos têm acompanhado as notícias sobre o ebola com muita atenção, os políticos tentam tirar proveito desse novo fator em uma disputa que costuma despertar pouco interesse nos eleitores e registrar fraco comparecimento às urnas, em um país onde o voto não é obrigatório.
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Controle do Senado
Estão em jogo nestas eleições todas as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados), um terço das cem cadeiras do Senado, governos de 36 dos 50 Estados e três territórios e diversas prefeituras.
Além disso, serão realizados junto com as eleições mais de 150 referendos locais sobre questões que vão do aborto à legalização da maconha.
Também está em jogo o comando do Senado, até agora nas mãos dos democratas. Os republicanos já controlam a Câmara dos Representantes e, conforme pesquisas, é provável que não somente mantenham esse domínio, mas também passem a ser a maioria no Senado.
Das vagas ao Senado disputadas neste pleito, 21 estão atualmente nas mãos de democratas e 15 com republicanos. De acordo com as pesquisas, são grandes as chances de o Partido Republicano conseguir as seis cadeiras necessárias para garantir o controle da casa.
Caso as previsões se confirmem, a expectativa é de uma polarização ainda maior em Washington, onde Obama já vem enfrentando desde seu primeiro mandato resistência da oposição a quase todas as suas iniciativas.
“As prioridades legislativas de Obama continuarão a ser ignoradas ou derrotadas no Congresso, como tem sido desde 2011”, prevê o analista Thomas E. Mann, do instituto Brookings.
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Críticas
Em uma campanha baseada em grande parte em ataques a Obama, o surgimento do ebola representa uma nova frente na qual os republicanos podem concentrar suas críticas.
O primeiro paciente diagnosticado nos Estados Unidos, o liberiano Thomas Duncan, morreu no início do mês depois de ter demorado para receber tratamento, apesar de ter ido ao hospital assim que surgiram os sintomas.
Duas enfermeiras do hospital no Texas onde Duncan estava internado foram contaminadas, o que aumentou os questionamentos sobre o preparo do país para enfrentar a doença.
Ambas foram curadas, mas na semana passada um médico que havia viajado à África Ocidental para ajudar no combate à doença foi diagnosticado em Nova York, aumentando o temor da população.
Passageiros vindos das áreas de risco já são vistoriados em cinco dos principais aeroportos do país. Após o caso em Nova York, alguns Estados chegaram a determinar a obrigatoriedade de quarentena para voluntários vindos dos países atingidos, medida que provocou polêmica.
Popularidade em baixa
Em meio a esse cenário, a estratégia dos republicanos tem sido a de ligar o temor dos americanos em relação ao ebola a preocupações mais gerais sobre o governo Obama, que atravessa um período de baixa recorde em popularidade, com taxa de aprovação de apenas 41%, segundo pesquisa Gallup com dados até 19 de outubro.
Desde o início da crise, republicanos pedem ações mais firmes, como a suspensão de voos ligando os Estados Unidos aos países africanos mais afetados pela doença, medida que tem apoio da maioria dos americanos, segundo pesquisas.
A Casa Branca é contra, e autoridades de saúde argumentam que a medida poderia agravar a situação, dificultando o fluxo de materiais médicos e voluntários para as zonas mais castigadas.
No entanto, com medo de que a resposta do presidente ao ebola acabe tendo impacto negativo em suas campanhas, muitos democratas têm se distanciado de Obama e passaram a apoiar a proibição, em um esforço para demonstrar firmeza no combate à crise.
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A tendência de manter distância de Obama não se restringe ao ebola e é verificada no comportamento geral dos democratas nestas eleições.
Enquanto os republicanos fazem o possível para ligar seus adversários a Obama, os democratas buscam se afastar do presidente para evitar que sua baixa popularidade contamine suas campanhas.
Segundo analistas, porém, o descontentamento do eleitor não é dirigido somente a Obama.
“Apesar de a maioria estar frustrada com o presidente, as pessoas também estão irritadas com o Congresso”, diz William Galston, também do Brookings, citando pesquisas que indicam apenas 12% de aprovação à atuação dos congressistas, descontentamento com ambos os partidos e uma falta geral de confiança nas instituições de governo.
“Essas eleições oferecem tanto ao Congresso quanto à Casa Branca a oportunidade de um novo começo. E a população estará observando atentamente para ver se seus líderes vão aproveitar essa oportunidade”, afirma.