falar de livros que não lemos
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Resumo escrito por:Jahn
Falar de livros que não lemos? !!! Podemos sim. Podemos e devemos! Sem culpa ou vergonha! Enfrentando o desafio. Isto porque Bayard tira o livro do “pedestal sagrado” que a “cultura” o colocou e nos dá o poder total sobre ele.

É um conceito inusitado e um estranho desafio. É sim. É uma aventura inesperada no mundo dos livros: Como falar de livros que não lemos?

Para ele, a leitura é um ato de liberdade, sem regras, leve e divertida, e nos apresenta inúmeras maneiras de abordarmos um livro, principalmente não o abrindo... e falando dele!

Como? Considerando o livro como uma segunda língua, com a qual falamos de nós mesmos e falamos com os outros. Isto é comunicação!

Por que com o livro falamos de nós mesmos? Por que não é ele que está em causa e, sim, um jogo com várias opções. Ele é o pretexto ou o meio para nos comunicarmos e transformar o momento-situação em passagem para o encontro de nós mesmos, conscientes de que já está sendo esquecido, mas que fez parte significativa da construção de nosso mundo interior (*livro encobridor).

O importante é considerar o livro lido, não-lido, falado, ouvido, desconhecido, folheado, esquecido, fantasma, como um objeto móvel, num processo em podemos impor nossas idéias, transformando um momento, uma situação em algo único, singular, onde podemos nos tornar um criador. E um criador pode se tornar um escritor.

Como criadores, podemos conquistar as pessoas, entrevistar um escritor, mesmo não tendo lido seu livro, fazer uma crítica, que é uma obra de arte, e considerá-la uma autobiografia e muito mais...

Poderemos construir um mundo singular com noções de cultura e literatura. Liberados do “dever” de ler, hábito aprendido na escola, que nos cobrava, através da ficha de leitura, a tortura de ter de lembrar de detalhes, de exigir a perfeição ( que nem o escritor se recorda) podemos “reinventar o livro”! Ah! Sem esquecer que no ato de começarmos a ler- já começa o processo de esquecimento. E quem não esquece?

Ah! Se soubéssemos, como Oscar Wilde afirma, que 6 minutos de leitura basta para conhecermos um livro, ou sobre a dica de um pintor, à pergunta de uma criança, sobre um livro aberto em uma página, que só aquela página que ele abriu já lhe bastava para saber sobre os dois personagens.

Podemos aprender com mestres da não-leitura, como Paul Valéry, Montaigne, Balzac, Oscar Wilde, que afirmavam que não liam livros dos quais ele deveria fazer críticas. Somos capazes de decifrar situações de falar ou ouvir sobre um livro não-lido. O monge Baskerville (Humberto Eco _ O Nome da Rosa) decifrou o mistério das mortes na abadia causadas por um livro, e construiu o seu enredo, sem abrir suas páginas, envolvendo-nos com o conceito do riso. (Poética, Aristóteles).
Ou podemos aprender com o “esteta de óculos dourados”, personagem de Eu sou um gato (Masumi Soseki) , que nos ensina como podemos ser iludidos por pessoas com palavras elogiosas a um livro ( que não é), mostrando-nos as armadilhas dos que se dizem “cultos”. E se perguntássemos a eles se leram todas as notas de rodapé nas páginas, ou a historiografia oferecida sobe o assunto em seus livros?

Falarmos de livros que não lemos? Claro. Podemos fazer como os Tiv ( povo africano), que discutiram Hamlet sem lê-lo, ou como um personagem de Graham Greene, que falou de um livro do qual era autor, mas que não o leu. Bill Murray, personagem do filme, O feitiço do tempo, conquistou sua amada sem ler os livros dos quais citou trechos.

Enfim, libertos, temos um aprendizado: um mesmo livro é diferente para cada leitor, pois pertence ao universo interior de cada um. Depois é só colocá-lo na biblioteca coletiva ou na virtual. Então, de maneira lúdica e com prazer, falarmos dele sob nosso ponto de vista, sabendo que ele fez parte significativa de construção de nossa própria cultura.

Bayard não leu Joyce, Proust, mas falaria sobre eles só com o que ouviu, leu e não se envergonha. E esta vergonha, este complexo de culpa que ele nos tira, nos dá a oportunidade, ao falarmos de um livro não lido, de fazermos uma criação, e de nos tornarmos escritor!

Falar de livros que não-lemos! Vale tudo, folheá-los, abri-los em qualquer página, lermos orelha de livro, comentários, críticas, crônicas, ensaios, nota, resumo, idéia e, assim, saboreamos a ventura de falar dele. O que importa é saber nos orientarmos – situarmos o livro e o autor dentro de um contexto e relacioná-los com outro. Como um bibliotecário. Ele não precisa ler todos os livros da biblioteca. Basta ler o catálogo para situá-los, e tem ótima conversa com quer que seja!

Bayard não escreveu para que as pessoas parem de ler. É para tornar o livro um incentivo a mais. E para dizer que um homem “culto” pode não ler livros.

Mas é preciso ter claro o conceito de que NÃO LER UM LIVRO NÃO É AUSÊNCIA DE LEITURA.

*Livro encobridor _ que vai em direção a nossa infância, nossos dilemas, traumas, prazeres. ( “Lembrança encobridora” _ Freud)).


Como falar de livros que não lemos? Originalmente publicado no Shvoong: http://pt.shvoong.com/books/1867494-como-falar-livros-que-n%C3%A3o/




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