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Férias de Fim de Ano
Vendo o tráfico de perto na Colômbia
Séries sobre Pablo Escobar agitam polêmico turismo temático na Colômbia. Em tours de até 4 dias, agências turísticas fazem passeios em locais emblemáticos da vida do barão colombiano da droga. Veja essa matéria da BBC Brasil.
O túmulo de um traficante é um destino improvável para um roteiro turístico – a não ser que você esteja na cidade colombiana de Medellín. Mais de vinte anos após sua morte, a história de Pablo Escobar continua a despertar interesse dentro e, especialmente, fora da Colômbia.
E com o lançamento de uma enxurrada de filmes e séries sobre o barão da droga colombiano, agências turísticas se preparam para atender – com passeios que passam por lugares emblemáticos da vida de Escobar – ao que esperam ser uma crescente curiosidade de estrangeiros sobre o tema.
Entre as séries lançadas recentemente sobre o chefe do Cartel de Medellín está Narcos, da Netflix. Em 2012, a TV colombiana Caracol produziu Escobar: O Patrão do Mal, que vem sendo exportada para diversos países. E o ator americano Tom Cruise está na Colômbia para gravar Mena, filme sobre um piloto que trabalhou para o traficante.
"Essas produções de fato parecem ter impulsionado o interesse dos estrangeiros na história de Escobar", conta Pedro Juan Lara, responsável pelo tour Escobar & The Rock (Escobar e a Pedra), lançado há cerca de seis meses.
No tour de Lara, os turistas visitam a outrora imponente casa de campo do traficante como parte de um passeio que também passa por uma formação rochosa com vista para uma região de lagos (a pedra que dá nome ao passeio).
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"Costumávamos trabalhar mais com ecoturismo, esporte e turismo de aventura, mas percebemos que haveria interesse dos turistas em conhecer essa propriedade de Escobar porque lá se pode ter uma ideia do poder e riqueza que ele alcançou no passado", diz.
Outra agência, identificada como PaisaRoad no site de dicas de viagem TripAdvisor, tem mais de 100 avaliações em um tour sobre Pablo Escobar.
A maior parte desses passeios leva os turistas para visitar pontos-chave da trajetória do traficante em Medellín, embora o chamado Pablo Escobar Tour, criado pelo publicitário Oscar Cantor, tenha um pacote de quatro dias sobre a vida dele iniciado na capital do país, Bogotá.
"O interesse dos turistas cresceu uns 200% depois da série Pablo Escobar, o Patrão do Mal", diz o publicitário.
Além de seu jazigo no elegante cemitério de Jardins Montesacro, estão entre os pontos visitados edifícios em que o traficante viveu e que foram alvos de atentados de grupos rivais, a casa em que foi morto, em um bairro de classe média de Medellín, o município de Envigado, onde ele começou sua carreira no crime como ladrão de carros, e o bairro Pablo Escobar, um conjunto de casinhas de tijolo aparente que doações do traficante ajudaram a construir nos anos 80, principalmente durante sua campanha para deputado.
Muitos também visitam a famosa Fazenda Nápoles, um dos maiores símbolos da riqueza do traficante.
A cerca de três horas de Medellín, o local tinha, no auge do império de Escobar, 3 mil hectares de bosques, heliponto, pistas de aterrissagem para aeronaves de pequeno porte, um zoológico particular e a maior coleção de aves em cativeiro do país. Hoje, abriga um parque aquático e um zoológico com animais da fauna africana.
Na entrada da fazenda, uma réplica da pequena aeronave com a qual Escobar enviou seu primeiro carregamento de drogas para os EUA ainda recepciona os visitantes.
Polêmicas
Mas nem todo mundo na Colômbia está contente com os passeios turísticos que relembram a história do traficante. E alguns desses tours são particularmente polêmicos.
Há alguns meses, por exemplo, o site especializado em viagens Despegar.com, um dos maiores da Colômbia, resolveu oferecer o "Pablo Escobar Tour", de Cantor, e foi alvo de uma série de reclamações de usuários colombianos.
"Despegar.com interrompeu o tour em respeito aos comentários de alguns usuários que não aprovaram esta iniciativa", explicou, por e-mail, Francisco Stengel, coordenador de comunicações da empresa.
Um dos pontos polêmicos desse tour em particular é o fato de que, ao final do passeio, os turistas podem fazer uma visita ao irmão de Pablo Escobar, Roberto Escobar Gavíria, o Osito ("Ursinho"). No site de seu provedor, também é possível adquirir uma camiseta em que se lê "Eu 'coração' Escobar" - com um coração vermelho crivado de balas.
Cantor continua a oferecer o passeio de forma independente e nega que o tour "glamourize" a trajetória do traficante.
"Muitos lugares do mundo também oferecem roteiros que contam o lado negro de sua história", disse ele à BBC Brasil. "Acho que essa é uma polêmica fomentada pela imprensa colombiana, porque os retornos que eu tenho até de meus conterrâneos é positivo. Escobar faz parte da história de nosso país e é natural que atraia a curiosidade de turistas."
O cientista político Gonzalo Rojas, diretor da Fundação Colômbia Com Memória, discorda. Rojas é filho de uma das vítimas da explosão, em 1989, de um avião da Avianca – atentado com mais de 100 mortos atribuído a Escobar – e acha um absurdo que um tour seja feito em associação com familiares do traficante.
"Não podemos perder de vista que essa pessoa (Escobar) foi um delinquente e milhares morreram por causa dele", opina. "Acho perverso que se faça um tour desses em associação com um de seus familiares – que além de tudo ainda está lucrando com o interesse dos turistas."
Para críticos como Rojas, alguns desses passeios que prometem contar a história de Escobar glorificam a vida de criminosos, desrespeitando suas vítimas.
Escobar semeou o terror na Colômbia com sua campanha de assassinatos de agentes do Estado e a explosão de bombas em locais públicos.
Matou candidatos à Presidência, ministros e juízes. Chegou a explodir a redação do jornal El Espectador, um dos maiores do país, e um escritório da agência de inteligência colombiana.
Incluído por sete anos consecutivos na lista dos mais ricos da revista Forbes, também fomentou em Medellín a cultura do dinheiro fácil e da ostentação – que imprimiu sua marca na cidade no que ficou conhecido como "narcoarquitetura".
Para os defensores dos roteiros turísticos que relembram sua trajetória, porém, esses anos difíceis não só têm de ser "aceitos" como parte da história da Colômbia – ou seja, é algo que o país não pode esconder – como lembrar esse passado doloroso ajudaria a garantir que ele "não se repita".
"É claro que nem todo o tour de Pablo Escobar é ruim, o problema é que a história seja mal contada", rebate Rojas.
O cientista político conta que, recentemente, conversou com autoridades de Bogotá sobre a necessidade de que a cidade crie seus próprios tours, museus e monumentos para contar a história dos anos de violência extrema de uma forma "não comercial" e dando ênfase ao ponto de vista das vítimas.
"Temos muito contato com uma organização americana que reúne famílias e sobreviventes do atentado de 11 de setembro (de 2011). Uma das sobreviventes é guia no monumento em homenagem às vítimas do ataque – e conta para os turistas o que viveu naquele dia. Acho que precisamos na Colômbia é de iniciativas desse tipo", opina Rojas.
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