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Há 100 anos o Brasil também teve o seu ‘Titanic’
Príncipe de Astúrias naufragou em Ilhabela, Costa Verde de São Paulo; oficialmente, 477 morreram. Com essa matéria, o Qsacada dá início aos mistérios e histórias fantásticas escondidas na região que poderia ser chamada de " Riviera". Apesar do descaso de prefeituras da região, tanto do lado fluminense como paulista - que inclusive desconhecem muitas coisas - , nós daremos a vocês opções para um novo tipo de lazer.
Eram 4 horas de 5 de março de 1916 e centenas de passageiros pulavam o carnaval nos salões do paquete espanhol Príncipe de Astúrias, um luxuoso transatlântico que havia zarpado de Barcelona, na Espanha, no dia 17 de fevereiro, com destino à Argentina. Antes, pararia em Santos, para o desembarque de 89 passageiros.
Chovia muito. Quinze minutos depois, ouviu-se um forte estrondo. O navio, que fazia a sexta viagem para a América Latina, sucumbia às águas do arquipélago de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, após chocar-se contra a única laje da Ponta da Pirabura, provocando um rasgo de 44 metros no casco. Foi à pique em menos de cinco minutos.
A música deu lugar aos gritos. O Príncipe de Astúrias podia transportar até 1.890 passageiros, dos quais 150 na primeira classe, 120 na segunda, mais 120 na segunda econômica e 1,5 mil em alojamentos para imigrantes. Oficialmente, levava, sob o comando do capitão José Lotina, 654 pessoas – 193 eram tripulantes. Naquela madrugada, 477 pessoas morreram, a maior parte presa aos escombros.
A embarcação não fazia o caminho usual, ao largo das ilhas, mas passava perigosamente próximo à costeira, entre as ilhas da Vitória e de Búzios. Diante da baixa visibilidade e da chuva intensa, Lotina ordenara o apito de sereia, destinado a alertar possíveis embarcações e evitar colisões. No passadiço, diante do clarão de um raio, viu um paredão rochoso bem próximo. “É terra?”, perguntou Lotina para seus oficiais. Sem esperar resposta, ordenou, no telégrafo: “Toda a força à ré, todo o leme à boreste!”. Nada mais podia ser feito. Vários estalos precederam duas explosões e o navio partiu-se em dois. Os pedidos de socorro nem foram transmitidos.
Clandestinos. Segundo depoimento dos sobreviventes à Capitania dos Portos de Santos, além das 654 pessoas, havia mais de 800 viajando clandestinamente, fugindo da Primeira Guerra Mundial. A maioria não tinha registro – somente os que seguiam nas classes mais sofisticadas tinham seus nomes cadastrados. Centenas de mortos nunca foram localizados nem identificados.
O Príncipe de Astúrias levava ainda 40 milhões de libras esterlinas e 11 toneladas de ouro, que serviriam como lastro monetário para a abertura de um banco. Essa carga nunca foi localizada.
Pela manhã, o Vega, um navio francês que passava nas proximidades, avistou os destroços e dois sobreviventes no mar. Iniciava-se assim o resgate de 143 pessoas que estavam à deriva.
Outro navio, o Patrício de Satrustegui, encontrou e recolheu vários corpos. Sobreviventes ainda puderam ser amparados pelos caiçaras, dias depois, encontrados perambulando pelas matas. Centenas de corpos foram sepultados em cemitérios improvisados, na Praia da Serraria.
O Príncipe de Astúrias naufragou quatro anos após o Titanic. Naquele acidente, 1,5 mil pessoas morreram.
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