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Jornal paulista publica Guia do Turista Olímpico
Uma seleção do que fazer no Rio de Janeiro durante a Olimpíada Rio 2016, com 184 atrações: bares, restaurantes, hotéis, praias, compras e passeios. Veja no jornal O Estado de São Paulo.
Prefeito Eduardo Paes inaugurando o VLT no Centro da capital carioca.
O Rio de Janeiro não continua sendo (o mesmo), dirá, porventura, quem cruzou ou cruzará suas ruas e avenidas nos próximos meses. Há motivos para a discordância poética. Desde que foi escolhido sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, viu mudar seus contornos, suas formas de locomoção e prioridades geográficas. Viu seu cotidiano se transformar no centro das atenções do mundo todo.
Nove anos depois e a exatos 45 dias da chegada da Tocha Olímpica ao Maracanã, palco da cerimônia de abertura (e de encerramento) da maior competição esportiva do mundo, a cidade ainda se esforça para fazer a experiência dos cerca de 1 milhão de turistas aguardados por lá ao longo do ano ir além das disputas em 28 modalidades.
Foram muitas transformações – que devem seguir até os Jogos e, provavelmente depois deles. Na sexta-feira, por exemplo, a cidade-sede declarou calamidade pública para ter acesso mais rápido a recursos federais. A justificativa é honrar compromissos assumidos com o Comitê Olímpico Internacional (COI), como o término da linha 4 do metrô, entre Ipanema e Barra da Tijuca.
Independentemente de questões políticas, o Rio seguirá atraindo os turistas. Por isso, fizemos um guia de atrações, divididas em cinco regiões, com 184 opções de passeios, praias, gastronomia, noite e compras, que pode ser levado no celular antes, durante e depois dos Jogos. Porque, apesar de não ser mais o mesmo, o Rio de Janeiro continuará lindo.
Deodoro e Zona Norte
Na terra do samba, a distância entre Clara Nunes e Silas de Oliveira não passa de quatro quilômetros. Essa terra atende pelo nome de zona norte carioca, onde até os logradouros fazem menção a ícones do ritmo que, em 2016, completa 100 anos.
Ali, a oposição à zona sul não é apenas cardeal. É também histórica, cultural e econômica. Distante do centro e pouco vista pelo poder público durante anos, a região nunca teve, com exceção do Maracanã, pontos turísticos de fama midiática.
Mas, como injustiças são passíveis de correção, talvez seja essa a hora e a vez de assumir que, para se conhecer realmente a essência do carioca – e duas das grandes paixões brasileiras –, nada melhor do que ir até ela.
Primeiro pelo esporte, já que tanto o Maracanã (e o Maracanãzinho) quanto o Engenhão ficam nessa parte da cidade. Completamente reformados nos últimos anos, receberão o futebol. Pertinho deles está o Complexo Esportivo de Deodoro – que, apesar de ser na zona oeste, é 27 quilômetros mais próximo de Madureira do que da Barra.
Segundo, pela música, que vibra nos pavilhões de suas escolas de samba e que, nos Jogos, ganhará mais um palco com a abertura do Boulevard Olímpico do Parque Madureira.
Copacabana e Zona Sul
É o pedaço do Rio mais conhecido. O das fotos turísticas, da natureza misturada à vida urbana. A zona sul é onde se concentram as atrações que há muito tempo encantam estrangeiros, atraem brasileiros e enchem de orgulho os cariocas. As ondas mais famosas estão lá, na espuma do mar e no calçadão de pedras portuguesas de Copacabana, local do icônico hotel Copacabana Palace e, durante os Jogos Olímpicos, das disputas de vôlei de praia, triatlo, ciclismo de estrada e maratona aquática.
Em Ipanema, o esporte é ditar tendência, seja nas areias, nas boutiques, em restaurantes, nas galerias de arte e até nos hotéis. Lá, o Fasano mantém seu endereço no Rio desde 2007, colado ao Arpoador. Daquele ponto da orla, vê-se o por do sol mais famoso da cidade, digno de aplauso, com o entardecer atrás do Morro Dois Irmãos, no Leblon. Nesse bairro vizinho, assiste-se ao Rio de horário nobre. Da Livraria Argumento, dos muitos restaurantes da Rua Dias Ferreira e do Jobi, um dos tantos botecos para se ir antes ou depois da praia. Se frescobol e altinho fossem modalidades olímpicas, os dois bairros seriam fonte inesgotável de talentos.
A zona sul é um permanente convite ao contato com a natureza, como em passeios pelo corredor de palmeiras imperiais do Jardim Botânico, um dos muitos pontos da cidade visíveis do alto do Morro do Corcovado. É aos pés do Cristo Redentor que se compreende a geografia do Rio e seus contrastes. E também de onde se debruça sobre outro cartão postal carioca: o Pão de Açúcar, cujos bondinhos já transportaram aproximadamente 42 milhões de visitantes nos cerca de cem anos de atividade.
Durante a Olimpíada, países como Alemanha (na Praia do Leblon), Dinamarca (na Praia de Ipanema) e Suíça, França e Holanda (na Lagoa) vão montar suas casas na zona sul. Abertas ao público, propõem atividades diversas, gratuitas ou pagas. Com provas de remo e canoagem velocidade, a Lagoa é um dos poucos pontos onde um ingresso não será necessário para se ter um gostinho dos Jogos. Basta seguir o estilo carioca: a vida ao ar livre.
Glória, Lapa e Santa Teresa
“Mas o que significa ‘malandro’?”, perguntou um árbitro de futebol norte-americano ao ver a Acadêmicos do Salgueiro desfilar pela Sapucaí com o enredo A ópera dos Malandros, uma referência e homenagem à obra de Chico Buarque.
Ensaiamos respostas variadas na tentativa de traduzir uma palavra que, como saudade, não tem definição. Quando vimos, lá estávamos nós, falando dessa coisa tão brasileira de ser boêmio. Dessa coisa tão carioca chamada região da Lapa, da Glória e de Santa Teresa. Apesar de não sediar competições, com exceção da Glória, casa das regatas de vela, seria impossível não falar do lugar que reúne clássicos como os Arcos, o Bondinho, a Rua do Lavradio.
Mas a graça de andar por suas vias, becos e ladeiras, sobretudo à noite, está simplesmente no fato de que cada uma de suas esquinas parece sempre oferecer uma opção de bar pé sujo ou sofisticado, uma loja de antiguidade, uma casa de shows descolada dentro de casarios antigos.
Nenhum dicionário explicaria melhor ao gringo, concluímos, os versos salgueirenses: “O samba vadio, meu povo a cantar, dia a dia, bar em bar. Eis minha filosofia, nos braços da boemia, me deixo levar.”
Centro e Zona Portuária
De todas as obras projetadas para que o Rio de Janeiro recebesse os Jogos Olímpicos, a revitalização da zona portuária foi a mais ambiciosa. A derrubada do Elevado da Perimetral abriu caminho para uma transformação que incluiu a criação de dois relevantes museus, um boulevard e o surgimento de formas alternativas de mobilidade urbana. Chamado de Porto Maravilha, o projeto propõe a ocupação da região novamente por cariocas e visitantes e o resgate da importância histórica e cultural desse pedaço da cidade.
A renovação do entorno da Praça Mauá inclui a abertura da Orla da Guanabara Prefeito Luiz Paulo Conde e a consequente revitalização de 287 mil metros quadrados da área. Com 3,5 quilômetros de comprimento, o trajeto se estende do Museu Histórico Nacional ao Armazém 8, na zona portuária. Durante os Jogos, esse espaço deve virar uma grande festa, com a instalação do Boulevard Olímpico, corredor com shows ao vivo e transmissão em telões das competições realizadas em outras partes da cidade.
Essa região carioca já vem atraindo atenção desde 2013, quando foi inaugurado o Museu de Arte do Rio (MAR). Em dezembro do ano passado, ganhou outro ponto cultural: o futurista Museu do Amanhã, novo cartão-postal da cidade. A modernização local prevê ainda Wi-Fi público e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), espécie de bonde que conecta as principais áreas do Centro com meios de transporte. Em cerca de 28 quilômetros de percurso, passa pelo Aeroporto Santos Dumont, pela zona portuária e por diversas atrações da região central.
Do esplendor do Theatro Municipal à emblemática primeira loja da farmácia Granado, o Centro é lugar de cultura e história. O Paço Imperial foi cenário de acontecimentos como o Dia do Fico e a abolição da escravatura. Hoje o espaço recebe espetáculos musicais e exposições de arte, como seu vizinho Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Somando-se a isso a grande oferta de especialidades à mesa, a região central mostra um Rio além de estereótipos, que poderiam fazer o visitante supor que a cidade se limita a praia e natureza. Com as mudanças na zona portuária, a tendência é que cada vez mais gente descubra que não.
Barra da Tijuca e região
Sentados em frente à Praça Desembargador Araújo Jorge, no bairro nobre do Joá, ouvimos atentos as infinitas histórias dos funcionários do tradicional Bar do Oswaldo. O assunto, para além do desempenho do Flamengo naquela rodada do Brasileirão (era 2015), tratava de uma Barra da Tijuca sem shoppings centers luxuosos, ônibus velozes e metrô para chamar de seu.
Difícil de imaginar? Pois quando Oswaldo Cardozo abriu as portas do mais famoso bar de batidas da zona oeste, há 70 anos, a cara da região era exatamente assim, uma vasta planície de areia, sem condomínios ou empreendimentos de qualquer tipo.
Morto em 2000, Oswaldo não teve a chance de ver a Barra (e seus arredores) presenciar a maior transformação de sua história, fruto do projeto que a elegeu sede do Parque Olímpico, onde serão disputadas 25 modalidades, a maioria de peso, como natação, basquete e judô.
Com a chegada dos ônibus BRT e da linha 4 do metrô, prevista para começar a circular no trecho olímpico em 1.º de agosto, a Barra ganhou a sua melhor chance de mostrar a que veio, inclusive aos próprios cariocas, já que de natureza e de arte ela parece entender tanto quanto entende de compras e baladas caras.
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