Na contramão – Os sabonetes antibacterianos nos atraem como uma maneira fácil de eliminar as bactérias que podem provocar doenças. Mas o triclosan, um ingrediente comum em muitos produtos antibacterianos, está na berlinda por possíveis danos à saúde e ao meio ambiente.
A FDA, agência que regula alimentos e drogas nos Estados Unidos, pretende proibir a substância com base em uma pesquisa, o que gera dúvidas sobre a verdadeira eficácia dos sabonetes antibacterianos e o que perderíamos se eles fossem retirados do mercado.
Afinal, esses produtos realmente previnem doenças ou só pioram as coisas?
Lavar as mãos continua sendo uma prática importante para manter a saúde, garantem os especialistas, sobretudo durante os meses do inverno. Neste caso, o sabonete comum e os géis antissépticos à base de álcool funcionam tão bem quanto os produtos com triclosan, sem causar nenhum dano.
“É evidente que o triclosan atinge algumas bactérias, não todas, mas não é eficaz contra vírus. No entanto, são os vírus que causam a maioria das doenças em uma comunidade”, afirmou Allison Aiello, epidemiologista da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Michigan em Ann Arbor.
“Parece estranho apoiar ou promover um produto que tem como alvo bactérias específicas, mas não agem contra os vírus que causam a maioria das doenças em uma residência. Para mim, isso não faz muito sentido”, questiona Aiello.
O triclosan foi classificado como pesticida pela primeira vez em 1969, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Desde então, o produto químico passou a integrar cremes dentais, sabonetes para as mãos, sabonetes líquidos, tábuas para cortar alimentos, brinquedos, tapetes, colchões, roupas, móveis e uma grande variedade de produtos, com o objetivo de combater bactérias, fungos e mofo.
Inicialmente, o triclosan atuaria como um assassino universal de bactérias, mas em 1998, Stuart Levy e seus colegas da Universidade de Tufts, nos arredores de Boston, descobriram que a substância eliminava bactérias específicas, que poderiam se tornar resistentes ao triclosan através de uma mutação nos genes necessários para a construção de paredes celulares.
Segundo Levy, um novo tipo de antibióticos foi estruturado à semelhança do triclosan, aumentando os temores de que a substância contribuiria para o desenvolvimento de bactérias resistentes a antibióticos, ao favorecer a sobrevivência e reprodução de micróbios imunes ao seu raio de ação.
Outra pesquisa mostrou que o triclosan atua como um interferente hormonal nos animais. Quando o triclosan é despejado em lagos e rios, decompõe-se em dioxinas que podem causar todo tipo de problemas de saúde, incluindo defeitos congênitos e câncer.
Além disso, um estudo de 2006, realizado na Suécia, encontrou concentrações mais altas de triclosan no leite materno de mulheres que usaram sabonete, desodorante e pasta de dentes que continham a substância química.
Em um um artigo publicado em 2007 na revista Clinical Infectious Disease, Aiello e seus colegas analisaram 27 estudos que comparavam produtos contendo triclosan ao sabonete comum, e descobriram que as pessoas não eram menos vulneráveis a diarreias, tosses, febres e infecções de pele se usassem sabonetes com a substância química.
Alguns estudos analisaram especificamente a carga bacteriana nas mãos antes e após a lavagem, e da mesma forma, a maioria não identificou nenhuma diferença entre a capacidade antibactericida de ambos os sabonetes. Talvez existam algumas bactérias que são eliminadas com mais eficácia pelo triclosan, explica Aiello, mas não muitas, e não são as que causam as doenças mais comuns.
Em vez de matar as bactérias, o sabonete comum simplesmente as remove das reentrâncias das mãos, o que permite que sejam levadas pelo ralo, afirma Levy, diretor do Centro de Adaptação Genética e Resistência às Drogas da Universidade de Tufts. Após a lavagem com água e sabão (muito mais eficaz que usar apenas água), ele defende a secagem com toalhas de papel, já que as bactérias podem sobreviver em toalhas úmidas.
Outra boa opção é usar gel antisséptico para as mãos à base de álcool, que mata os germes por desidratação. As bactérias não conseguem desenvolver resistência ao álcool com facilidade.
“Use água e sabonete comum, e se não for possível, recorra a produtos à base de álcool”, disse Levy. “Você não precisa usar sabonetes impregnados com produtos químicos. Qualquer produto de ação antibacteriana e antimicrobiana, em minha opinião, deve ser usado com prudência”, alerta.
Fontes: Terra , Ucho , Discovery Brasil