A independência brasileira foi um processo histórico, ela não começou com o grito no Ipiranga. O grito, e até mesmo a estada de d. Pedro em São Paulo, são consequências de um movimento político e social de maior envergadura e que contou com a ajuda e o incentivo até da nascente maçonaria brasileira.
Apesar de a cidade de São Paulo em 1822 possuir alguns maçons, eles não eram em número suficiente para formar uma Loja, diferente do Rio de Janeiro, que contava com a Loja Comercio e Arte desde junho de 1821.
O fundador dessa loja, Joaquim Gonçalves Ledo, em eloquente discurso pronunciado em reunião do Grande Oriente do Brasil dirigido ao então Príncipe Regente, d. Pedro, em 20 de agosto de 1822, incitou-o, em nome da Maçonaria, a dissolver os laços que nos uniam a Portugal.
Alguns meses antes, cientes de que sem o apoio de São Paulo e Minas Gerais não haveria independência, a Loja carioca enviara Paulo Barbosa para Minas e Pedro Dias para São Paulo, aonde chegou no início de dezembro de 1821, para medir os ânimos paulistas.
Em carta para José Clemente Pereira, José Joaquim da Rocha revela o que Pedro Dias descobriu em São Paulo: “Pedro Dias tem parentes em Sao Paulo de muita influência, que são os Paes Leme, e disse que, apesar de saber que José Bonifácio não é partidário da nossa causa, por julgar que a Independência, nestes tempos, é a desunião do Brasil, promete, com a amizade de Martim Francsico por mim e com o grande prestígio desse Andrada sobre o irmão e sobre a Câmara de São Paulo, trazê-lo para o nosso lado e até, talvez, para a nossa Maçonaria.”
Quem poderia imaginar que o “Patriarca da Independência”, José Bonifácio, vacilou de início e quem o incitou à causa foi seu irmão Martim Francisco. Outro ponto interessante dessa carta é o fato de dizerem que Martim Francisco tinha influência na Câmara Paulista.
Efetivamente tinha, mas a sua forma de governar, como secretário do Interior, acabou pondo muitos paulistas contra si, o que levou à Bernarda de Francisco Inácio, um levante que impediu o Andrada de assumir o governo da província e o mandou exilado para o Rio de Janeiro.
Esse foi um dos motivos que levou d. Pedro a pegar a estrada e vir para São Paulo dar um basta nos focos de revolta contra os irmãos Andradas que ainda existiam por aqui e realizar novas eleições para o governo paulista. Nesse período, de agosto a setembro de 1822, quem governou São Paulo foi d. Pedro.
José Bonifácio, no Rio de Janeiro desde o início de 1822, acabaria sendo o primeiro Grão-Mestre da Maçonaria Brasileira, mas se voltaria contra Ledo e outros irmãos maçons logo após a proclamação de d. Pedro I no Ipiranga. As linhas políticas almejadas pelos irmãos Andradas e pelo grupo de Ledo e Clemente Pereira eram divergentes.
D. Pedro era jovem e, como d. Leopoldina afirma em uma das cartas para sua irmã Maria Luíza, ex-imperatriz dos franceses, afeito a ideias novas. Encantava-se com o desconhecido e assim foi levado para dentro da Maçonaria. Foi iniciado no início de agosto de 1822 e, em outubro, ordenaria o fechamento da Maçonaria e a prisão de alguns de seus líderes.
No ano seguinte seria a vez de ordenar o fechamento do Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz, instituição paramaçônica criada por José Bonifácio no primeiro semestre de 1822. Assim como Ledo e diversos outros maçons, dessa vez foi a hora de os irmãos Andradas partirem para o exílio.
A Maçonaria no Brasil só retornou após a abdicação de d. Pedro I, em abril de 1831. Nesse mesmo ano, em agosto, era criada na Província de São Paulo a primeira Loja, a Inteligência, de Porto Feliz, em agosto. Nessa Loja seria iniciado o Padre Diogo Antonio Feijó, primeiro paulista a governar o Brasil. Na cidade de São Paulo, a Maçonaria só estabeleceria uma Loja, a Amizade, em 13 de maio de 1832, exatos 56 anos antes da Abolição da Escravatura.
Fontes:
Filhos de Yhwh , Sao Paulo