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Carlos Alberto Parreira saiu do túnel do estádio do Morumbi, olhou em volta e respirou fundo, pesado. Era dia de a Seleção jogar em casa. Aquilo que, a priori, seria motivo só de otimismo, naquele caso vinha acompanhado de preocupação: era preciso não apenas ganhar – como naquele dia o Brasil ganhou do Equador – mas jogar impecavelmente bem. E, ainda assim, dificilmente alguém consideraria que aquilo era mais do que a obrigação cumprida.
Existem torcedores mal-acostumados e, então, existem os torcedores brasileiros. O relato que o próprio Parreira fez ao FIFA.com - durante uma longa entrevista no ano de 2012 - daquele dia de agosto de 1993 é apenas um de tantos exemplos disso. A Seleção Brasileira que ele dirigia à época vinha de, um mês antes, perder para a Bolívia o primeiro jogo de eliminatórias de sua – veja bem – história. Era o bastante para o clima em São Paulo ser de absoluta tensão, culminada com vaias mesmo após a vitória por 2 a 0. Difícil pensar num grupo tão suscetível a qualquer sinal de as coisas não funcionarem perfeitamente dentro de campo quanto os torcedores do País - particularmente em tempos de Copa do Mundo da FIFA.
Saltemos 21 anos: a Seleção Brasileira já não tem três, mas cinco títulos mundiais. O time comandado por Luiz Felipe Scolari, e com Parreira como coordenador técnico, disputa a Copa do Mundo em casa, surfando num ano exato de embalo pela grande conquista da Copa das Confederações da FIFA. Depois da estreia tensa, mas com vitória de virada sobre a Croácia, para a maior parte da torcida, qualquer coisa abaixo de uma grande exibição contra o México poderia ser considerada abaixo das expectativas. E, então, pela primeira vez desde junho de 2011, a Seleção, jogando em casa, não marca gols: empata em zero a zero.
Decepção? Crise? Cobrança? Cataclismo? Em outros tempos, não seria nada impossível dizer que sim para tudo isso. Na última terça-feira, porém, o Castelão não deu um sinal sequer de reclamar, muito menos vaiar. “Estou acreditando mesmo, cada vez mais, que a torcida está definitivamente ao nosso lado, para tudo o que vier”, disse Neymar aoFIFA.com ao final da partida. “Todo mundo tem vindo para apoiar, e para apoiar até o fim, e já tem sido assim há algum tempo. Assim como tanta coisa dentro de campo, isso também virou uma marca registrada deste time. E não existe coisa melhor para quem joga uma Copa em casa.”
Na saúde e na doençaO mais importante da declaração de Neymar é esse “para tudo o que vier”. Porque uma coisa é levantar, se emocionar e cantar magnificamente o Hino Nacional Brasileiro a cappella antes de o jogo começar, com o otimismo intacto, como também se tornou marca registrada da Seleção. Outra, bem diferente, é manter a boa vontade quando algo não funciona, como não funcionou a intenção brasileira de marcar gols num goleiro Guillermo Ochoa inspirado. Ainda mais quando se trata do país com mais títulos mundiais, com mais reputação de jogar de forma bonita e cuja seleção não perde um jogo em seu próprio território desde um longínquo agosto de 2002, num amistoso contra o Paraguai.
“Quer que eu diga sinceramente? Até um certo ponto, acho que a imprensa esportiva brasileira montou esse mito. Da nossa parte, em todo lugar que a gente foi até hoje a gente foi muito bem tratado”, garante David Luiz ao FIFA.com. “Se tem pressão? Claro que tem, mas porque somos um time grande e ambicioso. Normal que haja pressão. Mas a torcida só tem ajudado. Sempre.”
É certo: existe, sim, uma pressão constante sobre a Seleção Brasileira pelo simples fato de ser a Seleção Brasileira, mas – David Luiz e o grupo todo sabem muito bem -, jogando em casa essa pressão aumenta muito; já aumentou. O excepcional é que, pelo menos até agora, o time conquistou uma certa imunidade a reações negativas, mesmo quando sai atrás no placar num jogo ou empata sem gols o outro. Até o ponto em que, na segunda-feira, quando colocar a cabeça para fora do túnel do Estádio Nacional Mané Garrincha antes da partida contra Camarões, Carlos Alberto Parreira vai olhar em volta, ver um estádio repleto de torcedores e respirar tranquilo: a princípio, eles estarão lá para tudo o que vier.