Imagem: Reprodução / IstoÉ |
A revista IstoÉ publicou artigo de Hugo Cilo, intitulado 'Somos todos idiotas', em que o autor defende que todos estão perdendo com a forma - e a quantidade - da arrecadação de impostos no Brasil.
Para o autor, somos todos idiotas por pagarmos impostos altíssimos sem termos um retorno à altura.
Leia abaixo a íntegra do artigo:
Não se ofenda com o título deste artigo. Não se trata de uma ofensa pessoal coletiva e autoinfligida. É uma constatação. Somos idiotas não porque nos falta conhecimento. Somos idiotas porque, embora esclarecidos, temos sido feitos de burro de carga de uma economia há tantos e tantos anos desequilibrada, em que poucos pagam muitos impostos, e muitos não pagam nada. Podem até dizer que essa é uma política romântica de distribuição de renda, de justiça social, que sustenta o Bolsa Família e outros programas sociais do governo. Mas, acredite, todos estão perdendo. Como o tema é tão econômico quanto político, atente-se aos números. Na quinta-feira 3, um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) constatou que, em 2012, pelo quinto ano consecutivo, o Brasil foi o último colocado no ranking de retorno dos impostos pagos. De lá para cá, nada mudou. O levantamento, realizado com os 30 países com maior carga tributária do mundo, endossou a tese de que dar a César o que é de César é um péssimo negócio por aqui. Embora a carga tributária tenha atingido 36,3%, os serviços públicos são precários. Pagamos, em síntese, tributos e impostos como os escandinavos e usufruímos de serviços de padrões africanos. Pelos cálculos do IBPT, o Brasil possui 135,34 pontos em uma equação chamada de Índice de Retorno de Bem-Estar à Sociedade, que também atende pela sigla Irbes. O país mais bem colocado nesse quesito são os Estados Unidos, com 165,78 pontos e uma carga tributária de 24,3%. Logo atrás aparecem Austrália, Coreia do Sul, Irlanda e Suíça. Perdemos até para a Argentina (24º lugar) e para o Uruguai (13º). Surpresa? Provavelmente não. Para a grande maioria da população, essa vergonhosa realidade não é nenhuma novidade. Mas não se pode ignorar o fato de que a situação é, cada vez mais, revoltante. Calma lá. Antes de politizar a questão, erguendo bandeiras petistas ou tucanas, defendendo o aumento dos impostos como política social, experimente deixar o carro em casa e utilizar o transporte público. Verá que os brasileiros, pobres ou de classe média, são massacrados de uma forma ou de outra. Não existe justiça de Hobin Hood, em que ricos pagam mais pelo bem-estar dos menos favorecidos. Ao menos uma vez, deixe o cartão do plano de saúde em casa e procure ajuda médica em pronto-socorro do SUS. Ou tire seu filho da escola particular para uma imersão de realidade nas escolas públicas brasileiras. Se tiver coragem, e confiança na polícia, caminhe alguns quarteirões pelas áreas centrais das grandes metrópoles. Não será preciso andar muito para perceber que o que pagamos não está por onde andamos. Nos próximos anos, o cenário pouco deve mudar. Não se iluda. A atual estrutura tributária brasileira impede transformações significativas. A redução dos gastos sociais é tema fora da pauta. A diminuição do tamanho do Estado, com a redução do número de ministérios, por exemplo, enfrentará a oposição dos que se beneficiam da máquina inchada. A implementação de uma ampla reforma tributária tornou-se utopia em um país em que prefeituras, governos estaduais e federal não se entendem. Enquanto a situação não muda, seguimos em frente, pagando os impostos, feito idiotas.
Hugo CiloFolha Política