A estimativa é do Bank of America Merrill Lynch, para quem os investidores estrangeiros esperam algumas definições para a economia brasileira, antes de trazer recursos de volta para o mercado de ações
Léa de Luca
Depois de um período de dois anos em que o Brasil enfrentou o mau humor dos investidores, principalmente estrangeiros, está chegando a hora de atrair de volta US$ 100 bilhões que saíram das ações de empresas brasileiras, em fundos locais ou globais. O cálculo é do Bank of America Merrill Lynch (BofA), e foi divulgado ontem pelo estrategista chefe para mercados de ações para a América Latina da instituição, Felipe Hirai.
O executivo falou durante evento promovido pelo Instituto Brasileiro de Profissionais de Relações com Investidores (IBRI), em São Paulo. E a previsão de que o dinheiro quer voltar é compartilhada pelo gestor de fundos de ações João Braga (ex-Credit Suisse Hedging Griffo, e futuro sócio da XP) e Regina Nunes, presidente da Standard & Poor's (S&P) para o Brasil e para o Cone Sul, que também participaram do debate ontem. Os três consideram, porém, que o dinheiro só volta para o mercado acionário brasileiro quando o governo, seja ele qual for o presidente — Dilma Roussef, do PT, ou Aécio Neves, do PSDB — der sinais inequívocos de que vai promover as reformas e ajustes necessários para retomar o crescimento, reduzindo gastos públicos e a inflação.
“Somente neste ano, saíram R$ 12 bilhões dos fundos de ações locais; e nos últimos dois anos, US$ 10 bilhões saíram de ações brasileiras que estavam em fundos globais”, diz Hirai. “O investidor vai voltar, mas não sem saber o que vai acontecer. Pode demorar ou não. O mercado vai esperar dados mais concretos e ações antes de apostar”.
“Pode ser pela reforma da Previdência, pela desvinculação do direcionamento da arrecadação de impostos, pela volta da inflação ao centro da meta; qualquer coisa que aponte intenção de reduzir o Custo Brasil”, diz Regina. Além do dinheiro para ações, a executiva diz também que o país precisa atrair investimentos de longo prazo para a infraestrutura, e para isso será preciso dar sinais de que está disposto a remunerar o capital com taxa de retorno atraente de acordo com o risco.
“Ninguém vem aqui fazer caridade”, concorda Braga. “Eventualmente, alguma empresa chinesa que quer vir de qualquer maneira para fincar o pé aqui”. Segundo o gestor, de 2012 para cá a negociação do governo com os investidores até melhorou “um pouco”. Mas é preciso esperar para ver como será com o novo governo. Será preciso medir cada micromovimentação do governo”, diz. Enquanto isso, ele recomenda continuar deixando o máximo possível do patrimônio dos fundos de ações (30%) em “cash”: “O CDI paga excelentes dividendos no Brasil”, diz, referindo-se, ironicamente, à alta remuneração dos juros diários. “Ganhar é bom, mas não perder é fundamental”. Para ele, os preços de uma cesta de diferentes ativos que acompanha mostra que a atual presidente tem 65% de chances de ganhar as eleições.
Regina informou também que a S&P não tem um prazo para rever o rating soberano do país — que foi rebaixado a BBB- em moeda estrangeira, e a BBB+ em moeda local, com perspectiva estável. Mas informou que a agência de classificação de risco de crédito analisa os ratings continuamente, principalmente quando há algum fato novo a considerar — como o anúncio de uma nova equipe econômica, que com certeza acontecerá em breve, seja qual for o presidente vencedor das eleições de domingo próximo. “O rating soberano reflete a capacidade do país pagar suas dívidas, mas também é afetado positivamente pela capacidade do país atrair mais investimentos”, diz. “Mas não muda em função de credibilidade; muda apenas com fatos concretos”, diz.
Brasil Econômico