Viúva de soldado torturado até a morte em Nova Iguaçu conta que marido sempre saía de casa prometendo voltar
Michele ampara o filho: “Se estivesse acordado, teria ido com o pai. Graças a Deus ficou em casa” Foto: Fabio Guimaraes / Extra
BAIXADA / NOVA IGUAÇU - Toda vez que o policial militar Bruno Rodrigues Pereira saía de casa, dizia à mulher: “Fica tranquila porque eu volto vivo”. Mas, no domingo, não aconteceu assim. O soldado foi buscar o irmão em um centro espírita na Lagoinha, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, mas teve a farda descoberta no porta-malas e acabou sendo barbaramente assassinado: amarrado pelos pés, foi arrastado por um cavalo pelas ruas da comunidade. E levou um tiro nas costas.
— Eu sempre tive medo de acontecer alguma coisa, mas meu marido prometia que voltaria e cumpria — lembra, emocionada, Michele Ignácio Pereira, de 29 anos.
Lotado na UPP da Formiga, na Zona Norte no Rio, o soldado de 30 anos estava na corporação há três.
E amava o que fazia:
— Era o sonho do Bruno ser policial. Ficava feliz com o que fazia, não demonstrava ter medo. Só comentava que alguns lugares eram mais perigosos, outros nem tanto.
Vítima deixa filho de 11 anos
A Michele, resta a difícil tarefa de cuidar sozinha do filho do casal: um menino de 11. A família mora no Parque Columbia, na Pavuna.
— Vivemos juntos aqui desde quando eu tinha 18 anos. Meu filho era muito apegado ao pai, estavam sempre juntos — conta a viúva, imaginando que a tragédia poderia ter sido maior: — No dia em que Bruno saiu para buscar o irmão, ele estava dormindo. Se estivesse acordado, teria ido junto. Graças a Deus ficou em casa.
Segundo Michele, a criança não aceita a tragédia:
— Meu filho está muito abalado, mas a família tem dado todo o apoio para a gente superar essa perda.
Pedido da mulher ignorado
A jovem conta que o marido evitava sair de carro com a farda, a não ser que estivesse indo trabalhar. Neste caso, o uniforme da PM era sempre escondido no porta-malas.
— Era um cuidado que ele tinha. Mas, como na segunda-feira o Bruno ia acordar às 4h para trabalhar, já tinha deixado tudo pronto — diz.
O PM já se preparava para dormir quando o telefone tocou, por volta das 21h: era seu irmão, dizendo que estava com quatro amigos, todos sem dinheiro para voltar para casa. Uma hora depois, o militar ligou para a mulher dizendo que estava perdido. Era a primeira vez que ia para a Lagoinha:
— O Bruno disse que estava em Coelho Neto e eu falei que ele estava no caminho errado. Depois, ligou de novo dizendo que já tinha chegado a Nova Iguaçu. Falei para ele que aquele lugar é perigoso, para ele sair logo de lá. Foi a última vez que nos falamos.
Prima do PM, Cida Raymundo Pereira diz que o gesto mostra como o soldado era apegado à família.
— Ele nem tinha muito contato com esse irmão. Mesmo assim, saiu de casa à noite para buscá-lo — ressalta Cida, que hoje faz 37 anos.
Menor diz que montou o cavalo
Uma operação conjunta entre os batalhões de Caxias, São João de Meriti e Mesquita prendeu, na Lagoinha, o traficante Wellington Souza, de 27 anos. Ele é apontado como o mandante da morte de Bruno. Os investigadores ainda não sabem se a vítima estava viva durante a sessão de tortura. A farda, a pistola e os documentos do PM foram jogados na Estrada de Madureira, em Nova Iguaçu.
Durante a operação, mais 13 pessoas foram detidas — seis delas são menores de idade. Faz parte do grupo um adolescente de 17 anos, que confessou na 52ª DP (Nova Iguaçu ) que montava o cavalo que arrastou Bruno.
Os suspeitos foram capturados nas comunidades Dom Bosco, Lagoinha e Campo Belo. Com eles foram apreendidos drogas, munição, armas e radiotransmissores. A carteira funcional do PM foi encontrada com um dos menores.
— A Polícia Militar está juntando esforços nesta localidade para que possamos encontrar outros criminosos envolvidos neste crime — disse ao “RJTV” o major Ivan Bláz, porta-voz do Comando da Polícia Pacificadora.
O corpo de Bruno foi sepultado ontem de manhã no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. Comandantes e colegas da UPP estiveram no local para se despedir do policial que, segundo eles, tinha uma conduta exemplar, sem faltas ou atrasos. O soldado trabalhava desde março deste ano na UPP do Morro da Formiga.
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