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Álcool etílico é encontrado em leite de mais uma cooperativa – Inspeção que verificou a presença da substância em lotes da Piá também apontou alteração em produto da Santa Clara
Álcool etílico foi encontrado no leite de mais uma cooperativa gaúcha: a Santa Clara. Inspeção da Superintendência do Ministério da Agricultura no Estado no dia 24 de junho deste ano apontou a presença da substância em amostra de leite cru refrigerado da empresa de Carlos Barbosa. Ontem, o ministério determinou o recolhimento de dois lotes de leite UHT e um de requeijão da Cooperativa Agropecuária Petrópolis (Piá) devido à mesma irregularidade.
Ministério diz que só pode haver álcool se for intencional
Entenda como o álcool etílico foi parar no leiteApós o resultado dos testes e a comprovação do problema, o posto de refrigeração da Santa Clara, em Veranópolis, foi fechado. Ainda não foram confirmados os lotes do produto alterado e nem a quantidade, mas informações preliminares apontam que o leite não se encontra mais no mercado.
Informado sobre as adulterações nos produtos da Piá e da Santa Clara na sexta-feira da semana passada, o Ministério Público do Estado chamará as duas cooperativas para prestarem esclarecimentos. As reuniões estão marcadas para esta sexta-feira à tarde.
— A diferença da Santa Clara é que o lote já expirou, então, não tem o que ser retirado do mercado. Foi detectado no leite pasteurizado (conhecido popularmente por leite de saquinho), cuja validade é de poucos dias. Pelo jeito, o produto foi ao mercado e, possivelmente, já foi consumido — explicou o promotor de Defesa do Consumidor, Alcindo Bastos.
O leite pasteurizado dura, em média, de três a cinco dias. A Santa Clara confirmou que o posto de refrigeração ficou fechado por um dia, mas, segundo a assessoria de imprensa, “para serem feitas adequações”. A cooperativa afirmou ter sido notificada da localização do álcool etílico no produto nesta terça-feira. Em nota, a empresa afirmou que só recebe leite em condições de consumo e processamento adequado, e que toda a matéria-prima é analisada antes de entrar na indústria e nos postos de captação.
“No posto de resfriamento de leite de Veranópolis, onde foi recebido o leite em questão, foram realizados todos os testes, inclusive o teste para presença de álcool etílico, e nada se constatou de irregular. Ao entrar na indústria, os mesmos testes foram novamente realizados, atestando que o leite estava dentro dos padrões legais“, acrescenta a nota.
A Santa Clara ainda disse que está questionando o Ministério da Agricultura por meio de processo administrativo, pois os testes realizados pelo laboratório oficial teriam levado 15 dias para serem finalizados — e, segundo a cooperativa, o leite in natura passa a sofrer alterações na sua composição, podendo comprometer os resultados.
Já a Piá disse que não foram constatadas irregularidades nas análises internas no leite UHT e requeijão — que estão sendo recolhidos do mercado. Os consumidores que ainda tiverem em casa os lotes L02/2 e L2-3 (leite UHT integral fabricados em 26/06/2014 e com data de validade até 26/10/2014) e o lote L2 de requeijão light (200g) fabricado em 30/06/2014 e com data de validade até 30/09/2014 devem entrar em contato com a cooperativa pelo SAC (0800-970-2099). A Piá garante que irá buscar a mercadoria na casa do consumidor, se necessário.
Especialista garante: substância não faz mal à saúde
— Não há perigo à saúde.A garantia é do professor de Microbiologia de Alimentos da UFRGS Eduardo Cesar Tondo. Especialista no controle de qualidade de alimentos, ele explica que o álcool etílico costuma ser acrescentado ao leite para mascarar a adição de água no produto.
— Geralmente, há a adição de água para ganhar volume. Para passar no teste da empresa, chamado de crioscopia, é colocado o álcool etílico. A crioscopia serve para detectar a adição de água ao leite, mas não o álcool. Por isso, tudo leva a crer que seja um problema no transportador — acredita o professor.
Conforme Tondo, a substância, apesar de irregular no leite, não é nociva à saúde como a ureia, encontrada no leite durante a primeira fase da Operação Leite Compen$ado, que desde o ano passado investiga fraudes no setor. O professor explica que se trata do mesmo álcool presente na fórmula da cerveja e do vinho, por exemplo.
— Mas não há a possibilidade de deixar alguém bêbado, porque a quantidade é muito baixa — avisa.
A médica veterinária e também professora da UFRGS Andrea Troller Pinto explica que o álcool mantém a temperatura de congelamento do leite estável, fazendo com que não se constate a adição de água quando o produto chega à indústria. Apesar de não ser nocivo à saúde, o efeito da diluição pode se refletir na perda de nutrientes do leite.
— Quem toma um copo de leite de 200ml todos os dias, na verdade, não está tomando 200ml de leite porque há outros componentes diluídos (nos produtos adulterados). Isso também não chega a ser um problema grave já que a concentração é baixa — diz Andrea.