O governo vai apenas acompanhar de longe as discussões no evento que é considerado o mais importante para as nações em desenvolvimento, ainda mais agora diante de uma sucessão de notícias ruins que deixam o mercado internacional desconfiado sobre a saúde do país.
Sob o tema principal "Perspectivas Econômicas Globais", para a 17ª edição do Fórum (20 a 22 de junho) estão sendo esperados mais de cinco mil visitantes de 30 países, entre os quais pesos pesados como Angela Merkel, a chanceler alemã. Também estão previstas na pauta secundária discussões sobre o preparativos para o encontro do G20, que será presidido pela Rússia em outubro, as perspectivas de avanço institucional dos Brics e reuniões de trabalhos bilaterais com os ministérios russos do Desenvolvimento e Comércio.
A rigor, agendas de importância para o Brasil, ator ativo entre as 20 nações mais desenvolvidas (G20); um dos líderes na formação do bloco das economias emergentes ao lado de Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics); e atualmente em um bom estágio de cooperação bilateral com os anfitriões do encontro de líderes governamentais e empresários internacionais.
Para o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), a ausência do Brasil não esvazia as discussões rotineiras a respeito daqueles temas e nem diminui a importância do País, tanto é que, como foi lembrado pelo ministro Luís Antônio Balduino Carneiro, diretor do Departamento de Assuntos Financeiros, o chanceler russo Serguei Lavrov esteve esta semana no Brasil para tratar de uma "extensa agenda bilateral e mundial".
"Vemos o Fórum de São Petesburgo como um espaço de debate mundial tão importante quanto Davos (o tradicional fórum anual da cidade suíça do mesmo nome), e o fato de o governo brasileiro não estar representado por nenhuma alta autoridade não significa que o vemos com menos relevância", explica o diplomata, acentuando a impossibilidade de agenda do chanceler brasileiro Antonio Patriota e de outros ministros. Até o fechamento desta matéria, também não havia informações sobre delegações de empresários e de governos estaduais.
O fato é que o encontro internacional na antiga capital russa vai acontecer em um momento crucial à economia mundial e ao Brasil, em particular.
No plano internacional, relatórios dão conta de uma melhora da economia dos Estados Unidos e, com isso, uma fuga de recursos dos emergentes para o dólar – o Brasil, por exemplo, tem experimentado uma alta expressiva da cotação, com o Banco Central sendo obrigado a intervir. Em paralelo, organismos internacionais como FMI e Banco Mundial já notaram desaceleração das economias emergentes. Com o quadro europeu ainda temerário, as chances de uma recessão mundial mais aguda já tomam forma para 2014, segundo consultorias e outros organismos.
No Brasil, a situação se deteriora a ponto de chamar atenção mundial. As previsões de crescimento do PIB caíram para menos de 2,5% este ano (vindo de praticamente zero em 2012), a menor entre os principais emergentes há alguns anos, a inflação resiste em viés de alta, os investimentos caíram, o dólar dispara, o déficit público cresce igual o déficit de transações correntes, e, para arredondar, a agência de classificação de risco Standard&Poors colocou em perspectiva de rebaixamento a nota do país. As medidas pontuais do governo não apresentam resultados, como reduções de impostos setorizados e maior abertura para a entrada de dólares, enquanto a Câmara Internacional do Comércio aponta o Brasil como o país mais protecionista do G20.
Luís Antonio Balduino Carneiro, do Itamaraty, não acredita que essa convergência de fatos podem deixar o Brasil muito exposto nos debates do Fórum Econômico Internacional de São Petesburgo. E daí então, possivelmente, a ausência estratégica de altas autoridades, como aconteceu de certa maneira no Fórum Econômico Mundial de Davos do ano passado, quando o Brasil já estava sendo questionado no seu modelo de crescimento.
Pode ser coincidência a incompatibilidade de agendas. Mas que a economia brasileira e suas perspectivas de riscos futuros, em mundo ainda conturbado, serão, sim, lembradas e discutidas na Rússia, não há dúvida.
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