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Turismo elegante na serra fluminense
Pelo menos dois circuitos de trens turísticos deverão ser reativados no interior, aponta reportagem de O Dia.
O turismo ferroviário está perto de andar nos trilhos no Rio. O apito de partida para a exploração de ramais desativados da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA) para este fim já ecoa em Miguel Pereira, no Sul Fluminense. O município ganhou da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Amigos do Trem uma luxuosa e reformada Litorina (vagão ferroviário dotado de motor próprio), fabricada nos Estados Unidos há 57 anos. Deve estar pronta para entrar em operação em outubro, num trecho inicial de 4,5 quilômetros. A cidade será a primeira do interior a ter novamente composição para turistas. Hoje, só o Trem do Corcovado é usado para passeios no estado.
Na sexta-feira, o secretário estadual de Transportes, Carlos Osorio, revelou que o governador Luiz Fernando Pezão autorizou estudos para a reativação de mais dois circuitos ferroviários destinados a viagens de lazer. O primeiro liga Miguel Pereira, Vassouras, Paty do Alferes e Paraíba do Sul, no Centro-Sul Fluminense. O outro fica entre Lídice (distrito de Rio Claro) e Angra dos Reis, no Sul do estado. Os dois percursos mantinham locomotivas turísticas no passado.
“Estamos entrando em acordo com a União, para utilizar parte de uma multa, estimada em R$ 900 milhões, que será aplicada à concessionária Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), uma vez que a empresa desativou e devolverá determinados trechos ferroviários que ela não utilizou e acabaram se deteriorando. O principal é que os trilhos ainda existem em mais de 80% desses trechos”, afirma Osório.
Em Miguel Pereira, a prefeitura fez licitação para obras de recuperação e readaptação da bitola de um metro para 1,60 metro, em um trecho que estava abandonado. Ele pertence à primeira etapa do projeto, ligando o Centro ao distrito de Governador Portela. Do total de R$ 2,5 milhões orçados para reativação da linha, o governo municipal arcará com R$ 750 mil. O restante será bancado pela União e a Oscip Amigos do Trem.
“A médio prazo, vamos estender a recuperação de trilhos até o distrito de Vera Cruz. Mais 9 km, com direito a vista paradisíaca de nossas montanhas”, propagandeia o secretário municipal de Turismo, Marco Aurélio Casa Nova. Ele sonha com postos de trabalho para boa parte dos 26 mil moradores, que tem o comércio como principal fonte de renda. A Litorina poderá acelerar a abertura de lojas de artesanato e restaurantes e dobrar os 2 mil leitos de hotéis. “Nossas expectativas são as melhores possíveis. Dobrando a quantidade de leitos, dobra-se a de funcionários”, diz Armando Ribeiro Júnior, dono de pousada.
Antigo Trem de Prata também está sendo recuperado por ONG
Depois de uma viagem de 300 quilômetros por rodovias numa carreta, em 27 dias, entre Barbacena (MG) e Miguel Pereira, envolvendo 500 técnicos e guindastes, a Litorina foi posta para visitação na estação ferroviária da cidade do Sul do estado, onde há um museu dedicado ao cantor Francisco Alves. O início da circulação está previsto para outubro, mês de aniversário miguelense.
Presidente da Oscip Amigos do Trem, Paulo Henrique Nascimento está eufórico. “Vamos provar que assim como em algumas cidades paulistas, do Paraná e Minas Gerais, trens turísticos são autossustentáveis. No Sul Fluminense, as belezas ecológicas, o casario herdado do ciclo do café e a riqueza da cultura regional são fontes de atrações naturais de turistas”, justifica.
Nascimento revela que outra Litorina passa por reforma, em parceria com a Inventariança da RFFSA e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), e poderá ser acoplada à de Miguel Pereira. “Outra novidade é que oito vagões do antigo Santa Cruz, o Trem de Prata, que ligou São Paulo ao Rio até 1991, estão sendo restaurados e poderão ser usados no circuito Miguel Pereira-Paty-Vassouras-Paraíba do Sul”, adianta.
Gente que viveu da ferrovia se emociona. É o caso de Adail Rodrigues, 70, o “Xerife dos Trilhos”. Ex-maquinista de Maria Fumaça aposentado, ele está há 23 anos, com apoio de um amigo, tomando conta, por iniciativa própria, de 400 metros de trilhos no Centro, a bordo de um antigo auto de linha, engenhoca movida a gasolina, que ele garimpa no comércio. Graças a ele, o trecho não sofreu invasões imobiliárias e nem furtos. “Isso aqui é minha vida, minha paixão”, resume.
“É muita felicidade. Oitenta por cento das famílias de Governador Portela são de ferroviários”, diz Geraldino Fraga, 57, que, assim como o pai e o avô, trabalhou por 30 anos na RFFSA. “Visitantes já estão vindo a Miguel Pereira para tirar fotos ao lado da Litorina”, atesta Luiz Alberto Amaro, 59, neto de maquinista.
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